O processo de militarização da Igreja

O texto abaixo, extraído de um excerto do artigo intitulado “Judaísmo e Cristianismo na Germânia à Época das Cruzadas”, de autoria do pesquisador brasileiro Cristiano Ferreira de Barros[1], dá exemplo do processo de militarização da Igreja, cujo maior emblema no Medievo foram as Cruzadas, eventos que dividiram a Idade Média em duas partes e que têm sido tema de discussão nas aulas de História da 1ª série do Ensino Médio do IEST.

As Cruzadas: bases de um processo histórico

O século XI passou por transformações que são reflexos de mudanças importantes que ocorriam na Europa Ocidental. Para entendermos como se formulou a ideia de uma peregrinação em massa em direção à terra santa com intuito de libertar os lugares sagrados tomados pelos muçulmanos, precisamos elucidar algumas dessas mudanças que serão cruciais para o entendimento desse fenômeno. A primeira pregação formal do Concílio ocorreu no concílio de Clermont em 1095. Ele tratou vários assuntos, dentre eles a condenação de abusos da Igreja, a arbitragem dos diferendos entre a Chaise-Dieu e Cluny, entre Archambaud de Bourbon e Souvigny, as regras das Tréguas de Deus e a excomunhão do Rei Filipe I, que residia, então, na abadia de Mozac, perto de Riom.

Em 27 de novembro, em uma plataforma ao ar livre, Urbano II prega a necessidade de correr em auxílio dos irmãos do Oriente, pois os Turcos avançavam pelo coração das terras cristãs, maltratando seus habitantes e violando seus santuários. Salientou a santidade de Jerusalém e descreveu o sofrimento dos peregrinos que para lá viajavam. Tendo pintado o sombrio quadro, fez seu apelo. Que a cristandade ocidental partisse em resgate do Oriente. 

Era, dessa forma, contemplada uma aproximação do ímpeto guerreiro às necessidades religiosas, simbiose em que os guerreiros seriam persuadidos a combater em favor de Deus. Pouco a pouco torna-se claro que, no movimento de purificação em que a iminência do fim dos tempos vem empenhar a cristandade do Ocidente, apenas a Guerra Santa é lícita. Ao povo de Deus que avança para a terra prometida, importa ter apaziguado todas as discórdias intensivas; deve caminhar na paz. Mas à sua frente o corpo dos seus guerreiros abre o caminho; dispersa, com a sua valentia, os sectários do maligno.

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[1] Licenciado em História pela Universidade Gama Filho. Aluno do 8º período do Curso de Bacharelado em História da Universidade Gama Filho e pesquisador associado ao LITHAM/UFRRJ (Laboratório Interdisciplinar de Teoria da História Antiguidade e Medievo da UFRRJ), inserido no projeto coletivo Linguagens, Discursividades e Mitologias na Literatura Adversus Iudaeos: Pensamento Eclesiástico e a Questão Judaica. Séculos IV a VI d.C., coordenado pela Prof.Dra.Renata Rozental Sancovsky. 

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