Professor de Biologia do Iest discute sobre o tema da Campanha da Fraternidade
A Campanha da Fraternidade deste ano (2016) aborda o tema “Casa Comum: nossa responsabilidade”, e diante de tantos problemas, inclusive ambientais, os quais temos tido contato diariamente, quero chamar a atenção para um pequeno trecho do livro “Cuidar da Terra, proteger a vida: como evitar o fim do mundo (Record, 2010), do teólogo Leonardo Boff (p. 26):
“É aqui que se entronca a questão da ética. Como nunca antes na história do pensamento, a palavra ETHOS, em seu sentido originário, ganha atualidade. ETHOS em grego significa MORADA HUMANA, aquele espaço da natureza que reservamos, organizamos e cuidamos para fazê-lo nosso habitat [...]. Precisamos de um ETHOS PLANETÁRIO [...]”
É mais do que sabido que o modo de vida da espécie humana tem afetado drasticamente a homeostase, o equilíbrio dinâmico, do planeta e quando nos deparamos com algumas situações, fica muito evidente que a necessidade de um ethos planetário se faz presente de modo urgente em nossas vidas. E aqui nem estamos falando de grandes desastres ambientais, aqueles que nos últimos anos circulam na mídia (desmatamentos, aquecimento global, poluição, rompimento de barragens etc.), vamos falar um pouco de algo mais próximo de nossa realidade, algo que é um direito de qualquer cidadão em qualquer parte do planeta, o direito ao saneamento básico.
Entendemos o saneamento básico como um conjunto de medidas que devem ser tomadas por governos (em qualquer esfera seja ela federal, estadual ou municipal) que garante uma qualidade de vida no mínimo adequada à saúde da população como, por exemplo, acesso à água potável, coleta e tratamento de esgoto, limpeza das ruas, córregos, parques etc.
Segundo os dados do Instituto TrataBrasil (http://www.tratabrasil.org.br), a situação do saneamento básico no Brasil é muito preocupante:
“82,5% dos brasileiros são atendidos com abastecimento de água tratada. São mais de 35 milhões de brasileiros sem o acesso a este serviço básico.
A cada 100 litros de água coletados e tratados, em média, apenas 67 litros são consumidos. Ou seja, 37% da água no Brasil é perdida, seja com vazamentos, roubos e ligações clandestinas, falta de medição ou medições incorretas no consumo de água, resultando no prejuízo de R$ 8 bilhões.
A soma do volume de água perdida por ano nos sistemas de distribuição das cidades daria para encher 6 (seis) sistemas Cantareira.
A região Sudeste apresenta 91,7% de atendimento total de água; enquanto isso, o Norte apresenta índice de 54,51%.
A região Norte é a que mais perde, com 47,90%; enquanto isso, o Sudeste apresenta o menor índice com 32,62%.
Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS 2014)
Fonte: Estudo Trata Brasil “Perdas de Água: Desafios ao Avanço do Saneamento Básico e à Escassez Hídrica – 2015”
Esses números são uma pequena amostra de como a situação de alguns milhares de pessoas é extremamente preocupante em nosso país, pois além de não terem acesso à água potável, essas pessoas se encontram em situações de risco e ficam expostas às mais diferentes doenças que podem ser transmitidas direta ou indiretamente pela água, com destaque para as mais diversas verminoses como a ascaridíase e a esquistossomose, mas também ganham destaque as bacterioses (leptospirose) e viroses (dengue, chikungunya e zika) sendo essas últimas transmitidas pelo mesmo vetor, a fêmea contaminada do mosquito Aedes Aegypti.
Portanto todo cuidado é pouco quando estamos diante de uma situação como essa, sabendo que muitas doenças podem e são transmitidas por meio da água, algumas medidas profiláticas simples fazem toda a diferença quando tomadas adequadamente como, por exemplo, ingerir somente água tratada (clorada ou fervida), não entrar ou ter contato com águas suspeitas de contaminação por esgoto ou qualquer outro contaminante, não deixar água parada para não servir de criadouro para mosquitos.
Numa próxima oportunidade discutiremos mais sobre o tema saneamento básico e alguns números nos ajudarão a entender melhor a triste realidade que assola nosso país, principalmente nas algumas regiões mais carentes. Profº Fábio José Machado, biólogo – mestre em Agroecologia e Desenvolvimento Rural pela Ufscar (Universidade Federal de São Carlos/SP)
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